terça-feira, 1 de setembro de 2015

O meu bairro, a minha cidade, sentirmo-nos em casa


A Voz do Local. Ou como “conversas de café” se tornam relevantes para a governação local e podem servir de termómetro para captar o pulsar da comunidade. Afinal a abertura para a inovação social pode estar associada ao simples gesto de falarmos com quem vive mesmo à frente da nossa porta (CR). A opinião de Pedro Nogueira Freire
O reconhecimento e sentido de comunidade[1] que estabelece a ligação da Rede DLBC, no meu entendimento, é a que promove , expressa e valida a consciência social que nos liga a todos nós, entidades locais ou grupos informais, agentes públicos ou empresas privadas, organizações do 3.º sector ou cidadãos por ser:
1)     Ponto de encontro de vontades num espaço físico e multidimensional;
2)     Dinâmica que desafia constantemente a co-habitação de vontades, anseios e decisões individuais e colectivas;
3)     Conjunto de princípios que ofereça o reconhecimento e legitimação daqueles que aí co-existem, quer estes sejam os implicados, colaboradores e ausentes;
4)     Sentido de pertença que estabelece laços de confiança, fomenta processos de co-responsabilização e valida experiências, pessoas e processos.
Validar no terreno
Permitam-me a veleidade, mas depois de explorar algumas definições sobre o conceito do que é “Comunidade” na internet, espaço virtual de encontro por natureza, o que propomos são interesses que têm de ser validados no terreno pelo saber fazer, como o “Emprego”, pelo saber viver, a “Educação” e pelo saber estar, a “Inclusão”.
O desafio é conciliá-los com o conhecimento dos territórios, experiências das organizações, regulação dos processos e resultados e abertura para a inovação social.
Conversas à porta do café
Para procurar simplificar, a imagem que vem ao meu encontro para explicar este processo são os vizinhos que se encontram à porta do café para falar do futebol ou do tempo e que debatem sobre o seu dia-a-dia e o futuro mais imediato. Estas são conversas dinâmicas e vivas nas quais, ao final de uns quantos encontros e acesas bravatas, acabamos por afirmar e nos reconhecermos como vizinhos.
Aí nos sentimos em casa, partilhamos a mesa, cuidamos uns dos outros e reconhecemos o meio que nos envolve como uma identidade única. Aí encontramos segurança, abalizamos a nossa existência e co-substanciamos o que é o meu bairro, a minha cidade.
Entre o visível e o invisível
Contudo, muitas das vezes nestas discussões temos dificuldade em participar e comunicar sobre o espaço onde e como convivemos, quanto mais estabelecemos as bases para a entreajuda e co-laboração necessárias para melhorar o que é “visível” a todos e “invisível” por não haver um encontro da vontade e projeto de tod@s para uma solução conjunta.
Co-governação e modelos de governação
A anima do quotidiano e dos laços de vizinhança gera formas únicas de co-existência às quais devemos tomar atenção, respeitar e ser capazes de as traduzir e acompanhar nas suas dinâmicas únicas. Só assim as podemos alimentar, quer sejam formais ou informais, como base para as estratégias de desenvolvimento local.
A identificação das necessidades, o acesso a direitos primordiais de cada indivíduo e o apoio constante aos que nos rodeiam tornam-se parte integrante das nossas considerações sobre o meu  bairro, a minha cidade e que deveremos suscitar como base para o trabalho a realizar, como as páginas desportivas e as últimas transferências do futebol, os descontos que o último folheto comercial traz sobre as verduras mais frescas ou as últimas tendências da moda e do corte e costura que falamos com quem vive mesmo à frente da nossa porta.
Outro tipo de avaliação
Os modelos de governação têm de ser baseados nas opiniões, sugestões, recomendações e propostas de quem vive nesses espaços de debate, nas chamadas “conversas de café”, pois quem as discute será o nosso mais acérrimo avaliador em tudo que iremos animar e desenvolver.
Instrumentos de participação democrática são relevantes para que os temas e a comunidade sejam postos através de:
1)     Debates, assembleias territoriais e/ou temáticas ou fóruns online;
2)     Questões mais difíceis ou que exigem alguma reflexão possam ser postas à consideração por inquéritos ou outros métodos de apoio à decisão, como petições, concursos, conferências ou iniciativas territoriais;
3)     Mobilização das vontades comuns através de comunidades virtuais e plataformas online, como o Facebook ou outros instrumentos tecnológicos que reduzam a clivagem entre decisores/cidadãos, representantes/representados;
4)     Participação cidadã no apoio a processos de decisão em que a comunicação e a informação disponibilizada serão instrumentos fundamentais para transmitir valores, vivências e boas práticas.
Co-capacitar as comunidades
Para tal, processos de organização e boas práticas já testados no terreno com alguns dos nossos associados poderão co-capacitar as comunidades, nomeadamente o modelo do Gabinete de Apoio aos Bairros de Intervenção Prioritária (GABIP, CML) [2], o Plataforma de Ação Local de Marvila (PALM, Comissão Social de Freguesia) [3], os Projetos de Inovação Comunitária (PIC, AKF-PT e SCML) ou as iniciativas sociais do “Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial” (GRACE) [4], que podem ser adaptadas de acordo com os territórios e temáticas a trabalhar.
O exemplo de Kortrijk
Acima de tudo, encontrarmos um espaço que permita a experimentação social, um local onde não existem erros mas vivências, que aglutine vontades e que permita a tod@s co-criar, co-participar, co-decidir, co-gerir, co-governar num processo de advocacia que respeite quem vive, trabalha e sabe quais as suas necessidades e anseios e que nos foi apresentado por Kortrijk [5] como um exemplo claro deste encontro de vontades. 

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